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Cine Repórter

26 set 2014

Artigo arquivado em Hemeroteca

Lançado em 23 de junho de 1934 por Antenor Teixeira, o semanário Cine Reporter era dirigido, sobretudo, aos profissionais do cinema nacional – em especial cineastas, produtores e exibidores –, tendo exercido o papel de grande incentivador da indústria cinematográfica nacional.

A publicação trazia artigos, reportagens, entrevistas, críticas, coluna social, anúncios sobre equipamentos e materiais cinematográficos, salas de exibição etc. Tratava também de políticas públicas para o cinema brasileiro, reivindicações da classe cinematográfica, notícias sobre atores e personalidades do cinema nacional e internacional, conteúdos dos filmes (como os relativos a questões raciais e religiosas), escolas e movimentos cinematográficos, história do cinema, congressos e encontros, questões trabalhistas dos profissionais de cinema e teatro, programação cinematográfica e teatral, censura, prêmios e festivais, produção internacional, o cinema frente ao advento da televisão etc.

Os lançamentos eram tratados na página “Revista das estréias”, que se encarregava também de fazer uma “crítica imparcial e independente”. Por volta de 1952, a coluna “Ante-estréia”, assinada por Dulce D. Brito, correspondente de Cine Reporter em Hollywood, passou a publicar críticas “em preview” do cinema americano. A coluna “Novidades cariocas” trazia ainda informes gerais sobre cinema no Rio de Janeiro. Diferentemente, porém, de “Revista das estreias”, as duas últimas colunas não duraram muito tempo.

A sede, no início, era na rua Santa Efigênia, 269, no bairro do mesmo nome na capital paulista.Com pouco apelo visual,o jornal era impresso nas oficinas da Gráfica Cinelândia, em pequeno formato, e com quatro ou oito páginas por edição. Durante o Estado Novo (1937-45), sofreu perseguições, assim como boa parte da imprensa que não havia se sujeitado ao poder estatal, segundo foi relatado na edição de 29 de junho de 1946, comemorativa do seu 12º aniversário. A circulação foi prejudicada e o jornal teria sido obrigado a mudar o nome para “Antenor Teixeira Informa”:

“Houve uma longa noite, no Brasil. Nem todos a sentiram, nem todos se debateram nela, à procura de uma réstea de luz. Nós de Cine Reporter, porém, temos no corpo e na alma, como sombras, as marcas das trevas desse tempo. Os nossos movimentos de libertação, nesse trágico período, valeram-nos as cicatrizes gloriosas que hoje ostentamos como condecorações. As dificuldades que se nos criaram, os obstáculos que desafiaram nossos passos, o poucachinho de justiça que pedíamos e nos era negado, as humilhações distribuídas, o desencontro de propósitos – tudo (...) conseguimos superar. (...) Das edições reduzidas às páginas volantes, e destas a “Antenor Teixeira Informa” – a tudo recorremos para que nunca faltasse o espírito de nosso jornal.”

Após o Estado Novo, a publicação, em fase menos turbulenta, teve representantes em outras cidades brasileiras e no exterior. Na época, era filiada à Associação Paulista de Imprensa, ao Sindicato das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas do Estado de São Paulo e à Associação dos Profissionais de Imprensa de São Paulo. Em junho de 1950, sua sede mudou para o nº 1.071 da avenida Ipiranga. Cerca de um ano depois, Luiz R. Patrima assumiu a gerência do periódico, no lugar de E. Teixeira. Ainda com Antenor Teixeira como proprietário e diretor, no início de 1953 M. Ayres da Cruz passou a aparecer em expediente como o responsável pela redação e pela secretaria.

A partir do nº 1.089, de 1º de dezembro de 1956, novas mudanças: Miroel Silveira como secretário de redação, Max Kahowec como responsável pela publicidade e Aguinaldo Azevedo Marques e Costa Cotrim como redatores (este último, até então, era o representante do periódico no Rio de Janeiro). Em 4 de maio de 1957, Cassiano Nunes assumiu o lugar de Miroel Silveira. No final deste ano, o expediente deixou de publicar o nome de qualquer secretário de redação.

Ao se iniciar a década de 1960, já com 25 anos de história, Cine Reporter pouco havia inovado. Na edição de 27 de fevereiro de 1960, o periódico tratou com destaque desta questão, lembrando que era voltado especialmente aos exibidores do cinema nacional:

“Vezes sem conta diletantes do jornalismo e ociosos do cinema têm perguntado a Cine Reporter porque (sic) este semanário (...) se atém às suas origens, desprezando penetração em campos mais vasto[s] e fáceis. Indaga-se de Cine Reporter porque (sic) ele não utiliza capas vistosas, explorando a vida de astros e estrelas, e, no texto, não faz desfilar as deliciosas intrigasinhas, os romances, o diz-que-diz tão ao gosto das mocinhas insofridas. A resposta é uma só e vem sendo dada desde 23 de junho de 1934: – Cine Reporter nasceu para um público certo e é a ele que se dirige, servindo-o, esclarecendo-o, informando-o.”

Provavelmente em decorrência da falta de renovação, entre outros motivos, o número de páginas reduziu-se em 1961 – de 12 páginas nos últimos anos para quatro ou seis. Logo depois, em agosto de 1962, a circulação foi interrompida. Quando voltou, em fevereiro de 1964, houve finalmente a primeira reforma editorial, ainda que relativa: o antes semanário tornava-se publicação mensal, com quase cinquenta páginas.
“Motivos de absoluta força maior, como a enfermidade e o infausto desaparecimento do nosso pranteado diretor, determinaram a suspensão da circulação de Cine Reporter (...) nesse período, também sofreu as influências da época de permanente desenvolvimento que é uma das constantes do nosso país. Passando de semanário a uma publicação mensal, crescemos em tamanho e progredimos também no aspecto material, já que, como revista, Cine Reporter será melhor ilustrado, ampliando suas habituais secções e criando outras novas (...).”

Com novo subtítulo – “Revista mensal de cinematografia” –, o periódico era agora propriedade da Edipel Editora e Distribuidora de Publicações Especializadas Ltda. Wilson Teixeira, herdeiro de Antenor Teixeira, era o diretor-superintendente, Walter Rocha o secretário e Volfi Bauer, diretor-gerente.

Mesmo com a renovação, a revista conservava aspectos da linha editorial original. Mantiveram-se, inclusive, a coluna “Revista das Estréias”, o “Guia do Comprador”, a relação dos lançamentos, a coluna social, entre outras seções. A diagramação não sofrera grandes mudanças, com exceção do emprego de mais fotografias.

Em 1964, a periodicidade foi se tornando irregular: não tendo circulado no mês de julho, lançou uma edição só para julho e agosto. Nela, chegou-se a expor que a circulação havia sofrido as consequências “do exagerado aumento do custo de produção, que onerou sobremaneira suas edições e impediram-nos de regularizar os lançamentos”. A partir de então, buscando regularizar-se, passou a sair de dois em dois meses, em edições de cerca de 20 páginas. Na edição de setembro e outubro de 1964, Cine Reporter lamentava o “agravamento das condições econômico-financeiras da nação”, atribuindo a este fato um dos motivos da crise da empresa.

Os últimos números disponíveis no acervo da Biblioteca Nacional são de maio e junho de 1965 (não se sabe se houve outros no restante daquele ano) e de janeiro de 1966 – lançado este último praticamente a propósito da realização, no Rio de Janeiro, da Conferência Latino-Americana de Vendas da Universal-International, tido como um dos maiores acontecimentos da vida cinematográfica brasileira”.