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Constitucional Pernambucano

13 nov 2014

Artigo arquivado em Hemeroteca

O que logo chama a atenção neste periódico é a inexistência de informação sobre a sua procedência. Do primeiro ao último número o pesquisador não encontra os nomes do proprietário ou proprietários, dos responsáveis ou dos redatores. As poucas matérias assinadas o são por pseudônimos. Apenas se diz que o jornal “subscreve-se à rua Estreita do Rosário, nº 12, a 3$000 reis por trimestre, pagos adiantados. Folha avulsa 120 rs”. E no canto inferior à direita da última página sempre a indicação de que era impresso na Typografia Commercial, situada no mesmo endereço. Nos primeiros tempos, circulava em dias indeterminados. Depois às quintas (mudou em seguida para as quartas) e sábados, sempre em formato 45x28 cm.

Criado com fins políticos, o jornal Constitucional Pernambucano expressava interesses de grupos conservadores locais contrariados com a formação, em 1862, da Liga Progressista que, tal como o Gabinete da Conciliação (1853-1858), reunia conservadores moderados e liberais.

Assim, o editorial de apresentação da primeira edição (não disponível no acervo desta Hemeroteca) censurava as políticas adotadas pelos governos imperial e da província, governada esta última por José Silveira de Sousa. Seguiam-se longos comentários contra o Partido Progressista, que estava no poder em Pernambuco.

O editorial da primeira edição do segundo ano de publicação, 1864(a cada ano, o jornal iniciava nova numeração), intitulado “O desengano”, criticava duramente os “revolucionários progressistas”: “(...) o predomínio e influência desse conjunto hybrido que se chamou liga, no baptismo da sensualidade política (...). Um governo onde as sympathias e as allianças se regateiam, se baixam, se traficam publicamente (...) este governo não pode ser o governo de um povo livre, que ainda não se emancipou das cadeias do decoro, nem estava habituado a ver a corrupção cahir das mãos dos depositários do poder.”

Na edição seguinte, de 2 de março de 1864, a crítica dirigia-se a Zacarias de Goes e Vasconcellos, que pela segunda vez presidia o Conselho de Ministros: “Os dias do ministerio Zacharias vão enchendo a sua ampolheta. Este ilustre estadista não foi talhado para dirigir situações duradouras. É tão açodado em procural-as, quanto em mantel-as. Parece fadado a governar debaixo de temporaes. E pois as últimas notícias da corte dão o seu ministério em serias difficuldades.”

O gabinete presidido por Zacarias, tendo José Bonifácio de Andrada e Silva como ministro do Império, foi até agosto de 1864, mas a Liga Progressista governaria até julho de 1868, e novamente com Zacarias à frente, depois de um interregno dos gabinetes progressistas chefiados por Francisco José Furtado e Pedro de Araújo Lima, o marquês de Olinda. O modo como terminou esse terceiro gabinete presidido por Zacarias de Góes e Vasconcellos – que ficou conhecido como “golpe branco” do Poder Moderador – marcaria, para muitos historiadores, o início do declínio da Monarquia. Em reação ao golpe, os liberais históricos, que desde 1866 publicavam o jornal Opinião Liberal, fundaram no mesmo ano de 1868 o Partido Liberal Radical, o qual, dois anos depois, daria origem ao Partido Republicano.

Apesar do nome, observa um autor, “a Liga Progressista sempre procurou evitar a discussão dessas questões [questões estruturais], definindo-se pelo passado, pela centralização, pelo princípio conservador. Por outro lado, a Liga era obrigada a enfrentar também os problemas militares e financeiros resultantes da guerra contra o Paraguai [1864-70].” (MATTOS, Ilmar R. de. História do Brasil, II vol. Império. s.l., s. d.)

O recrutamento militar para a Guerra do Paraguai (ou da Guerra da Tríplice Aliança, como preferem chamá-la os paraguaios) era um dos alvos maiores da crítica: “Esta palavra se vai tornando entre nós a mais omniosa e fatídica!”, afirmava o Constitucional Pernambucano na edição de 27 de fevereiro de 1864. O jornal criticava os excessos cometidos pelo governo, “não se respeitando nem a condição nem a idade”. Afirmava que de toda parte chegavam “queixas contra a barbaridade das levas, cujo rigor insensato só revela vingança contra aquelas pessoas do povo que na calamitosa epocha das elições não se prestava a ser instrumentos das infames tropelias da folia. A fuga dos Afogados, por exemplo, tem sido a aque mais tem soffrido. Raro é o dia em que se não põe (sic) cordas nos pulsos de algum cidadão brasileiro, sem lhe consultar a exempção; basta saber se pertence à falange leal que tem acompanhado o tenente-coronel Manoel Joaquim do Rego Albuquerque!”

Além do editorial, sempre na primeira página, o Constitucional Pernambucano oferecia seções como "Notícias diversas", “Transcrições”, “Correspondências” e “Anúncios”, além das "Correspondências" e "Comunicados", geralmente assinados com iniciais. Embora raramente, publicou também Literatura.

As eleições parlamentares de 1863 originaram a publicação de um Boletim Eleitoral, diário, de uma a duas páginas, entre 10 e 19 de agosto. Nesse boletim, foram narradas cenas desagradáveis ocorridas por ocasião do pleito e ataques à administração provincial, denunciada por atos de fraude em prejuízo dos candidatos oposicionistas.

A edição nº 12, de 20 de abril de 1864, deu início a uma longa série de artigos assinados por C. Tamerlão (pseudônimo provavelmente), com críticas severa aos poderes executivo e legislativo provinciais. A partir do número 58, de 30 de novembro, travaram interessante debate político o mesmo Tamerlão e “E. Califourchon”, em estiradíssimos artigos, como era de praxe no periódico, ao passo que “Junius” escrevia "Apontamentos para a História".

A partir do número 57, ainda em 1864, a folha passou a sair semanalmente, sendo J. Ferreira dos Santos (o primeiro e único nome a aparecer como membro do grupo responsável) encarregado de receber as assinaturas. Terminou o ano o número 61, de 24 de dezembro, acrescido de um suplemento de duas páginas, devido a "necessidade de dar saída" a "algumas das matérias que ficaram".

Sempre fazendo oposição ao gabinete ministerial e à presidência da província, então exercida por Antônio Borges Leal Castelo Branco, além de criticar as vantagens conseguidas pelo líder “liguista” Nascimento Feitosa. Oo jornal circulou 8 de julho de 1865, quando foi publicada a edição de número 20. As quatro últimas edições, vale destacar, publicaram também a correspondência de um chefe político local: "Coronel Francisco Joaquim Pereira Lobo, ao público"

Fonte

1NASCIMENTO, Luiz do. História da imprensa de Pernambuco. Vol. V. Periódicos do Recife 1851 – 1875. Pernambuco, Recife: Universidade Federal de Recife, 1970. 167. Disponível em: Acesso em: 10 dez. 2012
2. MATTOS, Ilmar R. História do Brasil. II Vol. Império. S.l., s.