BNDigital

Corsario: periodico critico, satyrico e litterario

17 nov 2014

Artigo arquivado em Hemeroteca
e marcado com as tags Censura e repressão, Humor político, Imprensa humorística, Segundo Reinado

“Corsário! Eis, leitores, um nome para um periódico, que a primeira vista causará surpresa, se não temor. Mas, tudo se explica: Depois do descalabro enraizado que germina assombrosamente na nossa sociedade, correndo a escala social sem distincção de classes (...) Respeitador da intelligência que tem por apoio a honra, o Corsario só atacará os traficantes. Os delapidadores do erário, os parasitas que sugam a seiva da sociedade, os políticos que mentem ao povo e á nação, enfim, toda a casta de “piratas”, serão perseguidos, ainda que construam um novo Gibraltar e nelle se refugiem”.

É nesse tom ameaçador que O Corsário: periódico critico, satyrico e chistoso se apresentava em sua primeira edição no dia 2 de outubro de 1880. Tratava-se de um dos muitos pasquins – aqueles pequenos jornais de pouquíssimas páginas surgidos no Primeiro Reinado, circulação efêmera, linguagem agressiva e primando por ataques pessoais, muitas vezes, sem identificar o proprietário – ainda em circulação no final do século XIX.

Segundo Nelson Werneck Sodré , um dos primeiros a tipificar essa imprensa, o Corsário não passava de um “repositório de escândalos” e, por isso, seu editor, Apulco de Castro, acabaria pagando com a vida. Não poupava ninguém, desqualificando desde prostituas e seus cafetões até o imperador Pedro II e seus ministros.

Como se revela o seguinte trecho da edição número 8 do dia 27 de outubro do mesmo ano de seu lançamento: “A S. M. O IMPERADOR... Senhor, tendes muitos defeitos, tantos como qualquer outro homem que fosse educado como Vossa Majestade, mas elses se tornam mais notáveis em Vós porque sois Soberano. Educado por padres, cercado só por aduladores e ambiciosos vulgares, Vossa Majestade circumscreveu o seu caráter em um estreito círculo e deu logo campo a qualidade que predomina em Vossa família – a hipocrysia. Tímido, fraco, puerilmente caprichoso, pouco esperto, muito pretencioso e ridiculo, eis o que é Vossa Majestade”.

Em outro trecho desse mesmo número ataca as casas de prostituição: “Parece que a civilização e moralidade retiraram-se da cidade de Trampolinopolis [nome fictício para a capital] para dar lugar as acções torpes e vis. Uma cidade onde o progresso tem germens, e a moralidade asylo, não pode tolerar casas, cujo fim não esteja de acordo com a civilização. É de casas de alugar comodos por hora que nos referimos. A cidade está infestada por esses antros de prostituição”.

Talvez por atacar sistematicamente diversas personalidades o Corsário não divulgou em seus primeiros números os nomes de seu editor. Somente em 10 de janeiro de 1881 o nome de Apulco de Castro, o editor e proprietário do jornal, apareceu. Conta Sodré que, ao atacar alguns oficiais do 1º Regimento de Cavalaria, 20 oficiais desse mesmo regimento invadiram e depredaram as oficinas do jornal. Apulcro de Castro conseguiu fugir, mas foi assassinado com sete facadas e dois tiros de revólver logo em seguida.

O Corsário, sempre em quatro páginas e com quatro colunas, teve seu subtítulo alterado algumas vezes: "periódico critico, satirico e literário", depois “periódico e literário, "órgão devotado ao povo e aos seus interesses" e, a partir de 1882, "órgão de moralização social". O acervo da Biblioteca Nacional tem 310 edições do jornal, todas disponíveis neste site.

SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa da Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983. Pág.231.