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Jornal do Povo

24 mar 2015

Artigo arquivado em Hemeroteca

De bem curta duração, o Jornal do Povo – “Publicação à Tarde”, informava-se à maneira de um subtítulo – esse diário circulou em Pernambuco de 14 de janeiro a 20 de julho de 1889, o ano da proclamação da República. Com quatro páginas e texto em quatro colunas, o periódico não trazia informações sobre o corpo redacional, a não ser o nome do correspondente no Rio de Janeiro, Luis da Franga e Silva.

O primeiro número informa os leitores mais sobre as intenções do que sobre a linha editorial a ser adotada:

“Quizeramos apresentar um programma; porem elles ja teem cahido tanto em descredito que julgamos acertado não fazel-o, nada promettermos, e deixar que o nosso procedimento falle mais alto do que quantas promessas (...) O que promettemos apenas é apreciarmos os factos com a mais rigorosa sinceridade e não descermos, por conveniência alguma, na apreciação delles, a atacar individualidades na esphera particular, nem consentirmos que, em qualquer de nossas secções ellas o sejam. É este o compromisso que, por ora, contrahimos para com todos.”

E quais eram as intenções? Uma delas era fazer “um jornal exclusivamente para o povo”. Outra era criticar a monarquia, mas de forma comedida, pois “nossas columnas serão cerradas às paixões”: “Pensamos que o estado de decadencia a que temos chegado tem sido uma pessima administração, no domínio da qual tem estado o Brasil (...)”.

A crítica prossegue na matéria “Triste registro” seguinte ao editorial de apresentação: “O que se passou na Côrte é vergonhoso para ambos os partidos monarchicos e depõe muito da moralidade do governo”.

Afirmando a importância da liberdade de pensamento e do direito de reunião pacifica, o texto condena a “opposição (sic) sanguinária” de um grupo de homens armados contra os republicanos e o suposto incentivo de políticos monarquistas: “a animação que dias antes a guarda negra [guarda formada por ex-escravos agradecidos à Monarquia pela Abolição], fazendo o conselheiro João Alfredo ‘votos’ para que ela ‘se centuplicasse’, quem sabe se não tornar-se-há de conseqüências ainda mais funestas, se não resultarão scenas mais desgraças do que se passaram e o throno impassivelmente contemplou-as?”

A crítica aparece também em “Bisbilhotices”, seção a cargo de “Garochinho”: “E o Patrocino? Psio! Caluda!.. Quem vai bulir com o coronel da guarda negra?...” O jornal publicava também romances, na seção “Foletim”, noticiário de corridas de cavalos (“Hypodromo”), “Novidades e avisos”, “Parte comercial”, esta por Fenelon Borba, etc.

A partir do nº 60, que circulou no dia 29 de março, o formato do jornal aumentou um pouco. O número 95, de 13 de maio, foi inteiramente dedicado ao primeiro aniversário da Abolição, com a primeira página emoldurada por vinhetas e, no alto, o brasão do Império. No centro, em tipos maiores, vinha epígrafe em forma de dedicatória: "Ao povo - A reconstrução da nacionalidade brasileira - Aos obscuros trabalhadores da libertação da pátria". As páginas internas apresentavam trabalhos em prosa e verso alusivos à data, assinados por Julio Falcão, Honório Silva, Maria Amélia de Queiroz, Solidônio Leite, José de Castro Silva e Mario Chaves. A quarta e última página foi toda ocupada por um poema patriótico assinado por Claudino dos Santos.

A circulação foi irregular, embora aparentemente isso não tenha acontecido por falta de publicidade: certas edições aparecem com duas páginas, ou seja, a metade do jornal, repletas de anúncios. Constavam do expediente as seguintes informações. Assinaturas para a capital: trimestre - 2$500; mês - 1$000; interior e províncias: trimestre - 4$000, depois reduzido para 3$000; número avulso - 40 réis.

Fonte

NASCIMENTO, Luiz do. História da imprensa de Pernambuco. Vol. II. Diários do Recife 1829/1900. Pernambuco, Recife: Universidade Federal de Recife, 1966. Disponível em: < http://www.fundaj.gov.br/geral/200anosdaimprensa/historia_da_imprensa_v06.pdf> Acesso em: 11 dez. 2012