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O Analista

31 mar 2015

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e marcado com as tags Conservadorismo, Crítica política, Dom Pedro I, Imprensa Áulica, Período Regencial, Primeiro Reinado, Rio de Janeiro

Veiculado em pequeno formato, O Analista foi um jornal bissemanal criado no Rio de Janeiro (RJ) em 1828, publicado a partir do dia 5 de agosto deste ano. Foi um dos periódicos governistas lançados para combater pasquins liberais de influência jacobinista que circulavam na capital imperial antes da abdicação de Dom Pedro I. Como era comum na imprensa da época, trazia em sua capa uma epígrafe, ironicamente com dizeres da figura jacobinista Anne Louise Germaine de Staël, conhecida como Madame de Staël: “Chaque décourverte sociale est un moyen de despotisme si elle n’est pas un moyen de liberté” (“Cada descoberta social é um meio de despotismo se não for um meio de liberdade”, em tradução livre). O Analista deixou de circular provavelmente em novembro de 1829, depois de publicar 137 edições.

Impresso na Typographia Imperial e Nacional, do governo, o periódico foi viabilizado por Miguel Calmon Du Pin e Almeida, o marquês de Abrantes, que, à época do início de sua edição, era ministro da Fazenda do Brasil. Segundo Pedro Calmon, autor de uma biografia do marquês de Abrantes lançada em 1933, Miguel Calmon havia lançado o jornal por conta de divergências com a Câmara, que lhe negara a chamada “lei de meios”. Sendo o mentor intelectual da folha, o ministro a dotava de tons favoráveis ao Império, apesar da crise política vivida no fim do Primeiro Reinado. Segundo Cybelle de Ipanema, no artigo “Um jornal governista de alto coturno”, especula-se sobre quem teria sido o redator do jornal entre escritores da época, emigrados portugueses “descontentes com a situação de Portugal sob D. Miguel” ou mesmo “um influente jornalista francês que tinha seu próprio jornal”.

Como os pasquins liberais da época assumissem facetas aguerridas e violentas, O Analista acabava adotando um discurso politicamente ríspido contra desafetos da coroa. Desde 5 de janeiro de 1828 Dom Pedro I não contava mais com o maior periódico imperial de sua época, a Gazeta do Brazil – nesse sentido, uma folha como O Analista era importante ao governo. Assim, o jornal buscava principalmente resgatar o prestígio de D. Pedro I (de imagem abalada após o escândalo envolvendo a marquesa de Santos, entre outras coisas), defender a solução da questão dinástica portuguesa iniciada com a morte de D. João VI a favor de D. Maria II, exaltar certas figuras do reinado e minar a articulação e o crescimento das correntes liberais radical e moderada. Em linhas gerais, O Analista tratou de tópicos e questões como atos públicos, política nacional e portuguesa, economia, o papel da imprensa na sociedade, a conduta de homens públicos, atualidades europeias, entre outras coisas.

O oficialesco Diário do Rio de Janeiro chegou a publicar anúncios divulgando o conteúdo de cada edição de O Analista, durante toda a existência da folha de Miguel Calmon. Em 5 de agosto de 1828 o diário expunha:
Sahe hoje á luz o N. 1º. do Analista, Periodico de Litteratura e Politica, cujas folhas sahirão terças e sextas feiras. A subscripção faz se na loja do Snr. João Pedro da Veiga, rua da Quitanda esquina de S. Pedro, a 2:000 rs. por trimestre. A venda faz se há nas lojas do costume a 80 rs. a folha. As correspondencias, e communicações escriptas em estillo decente, e assignadas, recebem-se em carta feichada na mesma loja da assignatura.

Em 1829, no entanto, as edições de O Analista traziam um cabeçalho afirmando que as assinaturas deveriam ser feitas na casa do redator, “no Campo d’Acclamação”, e na loja de Thomaz B. Hunt, na Rua do Sabão nº 133.

O Analista trazia cartas-artigos, sonetos, traduções e transcrições de outras publicações, textos oficiais, anedotas, reflexões, etc., sendo que o jornal contava com três seções regulares: “Exterior” (às vezes intitulada “Noticias Extrangeiras”), “Rio de Janeiro” e “Correspondência(s)”. Boa parte das discussões e polêmicas travadas contra periódicos opositores (O Farol Paulistano, Astréa, A Aurora Fluminense, Astro de Minas, etc.) vinha em textos de capa ou em cartas de leitores – sendo que, em alguns casos, cartas-artigo escritas pelo próprio imperador foram publicadas, como as sob o pseudônimo “O Verificador”. O jornal circulava sem anúncios publicitários, disposto em apenas duas colunas de texto, sem imagens, com quatro páginas por edição.

Fontes

- Acervo: edições do nº 28, de 7 de novembro de 1828, ao nº 36, de 5 de dezembro de 1828; e do nº 122, de 9 de outubro de 1829, ao nº 132, de 10 de novembro de 1829.

- “Catálogo de jornais e revistas do Rio de Janeiro (1808-1889) existentes na Biblioteca Nacional. In Anais da Biblioteca Nacional, volume 85. Rio de Janeiro: Divisão de Publicações e Divulgação da Biblioteca Nacional, 1965. Disponível em: http://objdigital.bn.br/acervo_digital/anais/anais_085_1965.pdf Acesso em 18 out. 2012.

- Diário do Rio de Janeiro, 5 ago. 1828. Primeira página.

- IPANEMA, Cybelle de. ‘Um jornal governista de alto coturno”. In Sociedade Brasileira de Pesquisa Histórica, Anais da XXIII Reunião. SBPH: Curitiba, 2003. Disponível em: http://sbph.cliomatica.com/arquivos/baixar/index.php?arquivo=anais/ Acesso em 18 out. 2012.

- SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.