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O Conciliador

31 mar 2015

Artigo arquivado em Hemeroteca

São Luís foi a quarta capital do país a ter imprensa. Rio de Janeiro e Salvador já publicavam jornais há mais de dez anos e Recife havia lançado seu primeiro jornal poucos meses antes do surgimento, em novembro de 1821, do maranhense O Conciliador.

Criado e financiado pelo governo do Maranhão, sob a direção de Bernardo da Silveira Pinto da Fonseca, O Conciliador marcou a chegada da tipografia à região. Surgiu em momento de embates entre favoráveis e contrários à independência brasileira e sua atuação passou por diversos episódios de enfrentamentos políticos e sociais, de caráter nacional quanto regional, como a crise regencial e os movimentos denominados Setembrada e Balaiada.

A historiografia brasileira classifica esse periódico entre aqueles que procuraram sustentar o antigo sistema colonial, pois em várias ocasiões sustentou o cumprimento rigoroso da Constituição portuguesa, as recomendações de fidelidade às ordens vindas de Portugal e o retorno a Portugal de D. João VI. Idéias de um jornal criado para defender os “interesses portugueses”, estivessem eles na província ou em Portugal.

A postura recolonizadora de O Conciliador resultou, como não poderia deixar de ser, em uma série de críticas de brasileiros, seja na forma de reclamações enviadas ao rei de Portugal, seja na criação de novas publicações favoráveis à independência. Ocorria assim, não apenas no Maranhão, mas também em outras províncias, a primeira grande polêmica política da imprensa brasileira. O português José Antônio Ferreira Tezinho, que fez parte de O Conciliador e foi um precursor do jornalismo maranhense, chegou a ser processado (e absolvido) por crime de opinião, tendo sido provavelmente o primeiro réu da imprensa brasileira.

O Conciliador surgiu em forma manuscrita e nesta fase (abril a novembro de 1821) chamou-se O Conciliador do Maranhão. Circularam 34 manuscritos em formato de papel almaço, escritos em duas colunas. Sua sede era em uma construção erguida pelos jesuítas. Em 31 de outubro de 1821, o governador local criou a primeira tipografia maranhense, onde o primeiro exemplar foi impresso em 10 de novembro de 1821. O jornal deixou de circular em julho de 1823, após 210 edições com periodicidade regular de dois números por semana. Tinha de quatro a oito páginas e formato 29,5 cm x 21 cm. O preço não era divulgado, mas na edição n° 53 foram oferecidos os 34 primeiros manuscritos por 6.400 réis. Durante sua existência outros jornais foram publicados na capital, como a Folha Medicinal do Maranhão (1822) e a Palmatória Semanal (1822).