BNDigital

O Democrata

01 abr 2015

Artigo arquivado em Hemeroteca

Lançado no dia 14 de fevereiro de 1880, O Democrata – “ Orgão do clube deste nome”, como se informava abaixo do título – era um semanário republicano que, desde a sua fundação, ostentou a divisa positivista “Ordem e Progresso”, a mesma que passaria a figurar na bandeira brasileira após a proclamação da República. Com quatro páginas, texto em quatro colunas e boa apresentação gráfica, tinha como redatores Antônio Carlos Ferreira da Silva, Antônio de Sousa Pinto e Laudelino Rocha, este último secretário do Clube Democrata recifense.

No longo artigo-programa de página e meia o jornal sustentava, em argumentação calcada na doutrina positivista de Augusto Comte, a necessidade de implantação de um regime verdadeiramente democrático no Brasil, afirmando que “a Monarquia tornou-se um impossível [sic] com a felicidade nacional".

Fruto de “uma associação política [...] composta de um grupo de homens cheios de boa vontade e generosas aspirações acerca do destino d’este paiz (...)”, como o “amor ao progresso”, o objetivo do jornal era “a educação social e politica de seus cidadãos.” “Queremos educar socialmente e dirigir politicamente” o paiz, o qual vivia um “immenso, e desconsolador (...) atraso”.

A concepção positivista da história sustentava essas propostas tutelares e pedagógicas: “os factos geraes da historia são determinados pela existência de leis invariáveis (...)”. Leis da evolução que dirigem “o curso das sociedades, de que poder algum, quer individual, quer colectivo, conseguiria impedir que as concepções humanas acerca do mundo e seus phenomenos fossem, primeiro theologicas, depois metaphysicas e finalmente, positivas. Esta ordem de sucessão histórica é, porém, tudo quanto há de immodificavel, de necessário e fatal no desenvolvimento da humanidade.”

Quanto à as propostas de reorganização do país após a extinção da “fazenda imperial”, valores positivistas e liberais se conjugavam: “1. uma educação tal que dê ao homem um conhecimento relativamente perfeito de si mesmo e do mundo em que se agita; 2. a mais completa liberdade política, a liberdade sob os seus mais variados aspectos. Do emprego destes meios, resultarão – progresso e ordem, dois termos que constituem a nossa divisa.”

Adiante, na segunda página, sob o título “Politica. República e ordem”, outras proclamas positivistas: “(...) organizar a mais perfeita unidade moral da nação pelo estabelecimento do ensino scientifico integral, pela constituição do direito privado, pelo respeito á família e pela proteção ao trabalho, pela discriminação dos poderes na administração, pela honestidade nas finanças e pelo amor do progresso na política; em duas palavras: pela justiça nas relações civis e pela liberdade nas relações políticas.”.

No número 26 deu início à publicação do Catecismo Republicano, de autoria de Carrilho Videira e do liberal Tavares Bastos, ocupando duas páginas a primeira inserção. O jornal tratava também de agricultura (artigos assinados por “Rusticus”), economia e finanças, instrução e educação, e literatura, publicando poesias de Martins Junior, João de Deus e Mariano Augusto, entre outros autores. Também transcreveu, certamente para alimentar a campanha republicana que então crescia de modo irreversível, o famoso panfleto “O libelo do povo”, publicado em 1849 por Francisco Sales de Torres Homem, “O Timandro”, quando este ainda integrava a corrente mais radical do Partido Liberal e não recebera do imperador o título de Visconde de Inhomirim.

O Democrata era impresso na Tipografia Industrial, situada na rua das Cruzes (atual rua Diário de Pernambuco), n° 18, enquanto a redação ficava na rua Barão da Vitoria (hoje rua Nova) n° 7. A assinatura custava 2$000 por trimestre. Jornal de curta duração, o nº 39, que circulou no dia 15 de Janeiro de 1881, foi o último encontrado na pesquisa. Terminou aí, provavelmente, o seu itinerário.

Fonte

NASCIMENTO, Luiz do. História da imprensa de Pernambuco. Vol. VI. Periódicos do Recife 1876 - 1900. Pernambuco, Recife: Universidade Federal de Recife, 1972. Disponível em: Acesso em: 11 dez. 2012.