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O Republicano

06 abr 2015

Artigo arquivado em Hemeroteca

Lançado, em Cuiabá, no estado de Mato Grosso, exatamente seis anos depois da proclamação da República, O Republicano foi um dos muitos periódicos criados no Brasil para demonstrar sua adesão ao novo regime instaurado no país em 15 de novembro de 1889. Bissemanal e administrado por Manoel R. dos Santos Tocantins, com redação e oficina na rua 27 de Dezembro, nº 26, anunciava-se, no editorial de apresentação, como “operário de progresso” e “defensor das liberdades públicas”. Afirmava ainda que seu “excellente corpo de collaboradores” não poupará “trabalho nem despesa para que seja digno da estima publica e possa preencher os fins a que se propõe”.

O fato, no entanto, de preferir a forma republicano de governo não significava concordância plena com os primeiros governos republicanos, nem com a forma como a república foi implantada no Brasil. Esta, segundo o jornal, ao invés de ter sido fruto de um movimento da sociedade civil, teria resultado de sedição capitaneada por militares, os quais, segundo afirmava o jornal, teriam se aproveitado da decadência física do imperador e da impopularidade de certos membros da família real para conquistar o poder.

“É sabido que o regimen republicano inaugurado a 15 de Novembro de 1889 foi menos o produto de uma evolução natural operada pela propaganda, do que o resultado de uma revolução militar triumphante. A queda da monarchia foi accelerada pela moléstia do velho Imperador e pela impopularidade dos outros membros de sua família, e assim se explica como, operada a transformação política, a nação tenha promptamente se identificado com as novas instituções.

Sintomaticamente O Republicano aparece também um ano depois da eleição que elegeu o paulista Prudente de Moraes primeiro presidente civil do Brasil. No governo autoritário de Floriano Peixoto, os redatores possivelmente não teriam liberdade para expor suas ideias políticas. O jornal era de fato incisivo em suas críticas aos dois primeiros presidentes militares – os marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto –, os quais, segundo o jornal, não reuniriam credenciais para governar o país:

"(...) Infelizmente os dous primeiros chefes da nação não possuíam os requisitos indispensaveis para abordar o estudo das importantes questões que se prendiam intimamente á reorganização política e econômica.” (28 nov. 1895 – Ano I, n.° 5).

Em 1897, O Republicano cobriu intensamente a Guerra de Canudos, que convulsionava o sertão baiano e era vista enganosamente pelo governo republicano e por parte da população, especialmente da capital federal, como uma ameaça ao regime, comandada à distância por potências monárquicas européias. O Republicano, aparentemente, seguia o senso comum.

No alto sertão do Estado da Bahia appareceu há tempos um individuo conhecido pelo nome de Antonio Conselheiro, qual, intitulando-se novo Messias, começou a fazer predicas e a reunir proselytos, conseguindo dentro de alguns mezes fazer-se acompanhar por mais de mil indivíduos de ambos os sexos e de todas as idades. (...)
Em vista disso, o Governo Federal decidio, á requisição ainda do Governador da Bahia, mandar ao encontro os bandidos uma brigada do exercito, composta das trez armas e sob o commando do Coronel Antonio Moreira César (...)


Na edição de 11 de Março de 1897, o jornal informa sobre o malogro da expedição Moreira César, a terceira enviada a Canudos, cujo comandante por sinal pereceu na refrega, atingido pela bala de um jagunço. Contudo, no mês de outubro, noticia, de “ultima hora” e com vivas à República, a vitória, dois dias antes, das forças do Exército sobre os rebeldes:

O Ministro da Guerra communicou ao Commandante do Districto Militar, estar Canudos occupado pelas nossas forças. Viva a Republica!” (7 de Outubro de 1897 – Ano II, N.º 199)

Mas os editores de O Republicano não faziam apenas a apologia da República como pode parecer. Como era típico dos jornais da época, também reservavam espaços para a literatura e assuntos amenos. A seção “Crepusculares”, com este título bem ao estilo parnasiano, publicava poemas e textos em prosa. Assim como outros periódicos contemporâneos, O Republicano também imprimia folhetins. Obras como Inocência, do visconde de Taunay, Filomena Borges de Aluísio de Azevedo e Tartarin de Tarascon, de Alphonse Daudet, entre outras, foram publicadas, capítulo a capítulo, nas páginas do jornal em seus quatro anos de existência.